terça-feira, 12 de junho de 2012

chá da tarde

testava o peso do mundo tocando os seus imensos cílios de gente
seu corpo mundano com feridas escarlates abertas para o puro contemplar
Disse-me: "Olhe pra estas escaras! Elas são suas, abriram-se por você"
Sinto o peso do mundo,
por que será que a coroa significou tanto em sua têmpora?
do lado de lá do rio tudo parece mais tranquilo, mais amarelo,
um som doce e graciosamente envenenado emana para me buscar
como se eu desse ouvidos...dar meus ouvidos seria um troca justa? Parece que sim
como uma moeda valiosa, reluzente ao brilho do olhar mercantil, pesado na balança
já sei -"Darei como deu Gogh?" - simplesmente ofertou o escambo para não ouvires mais o lampejo fúnebre
do outro lado do rio
do rio, de lá testam o peso do nada e de cá, o teste, é o tudo que pesam.

- Uma xícara mais por favor, completou a triste senhora
e ainda - Que destes tristes campos em teus sonhos, ficarei contigo até o acordar


sexta-feira, 1 de junho de 2012

...é a segunda vez que encontro um parafuso solto no ônibus. Novamente ele se mostrou, em puro ferro denso e desgastado pelas barbas da ferrugem....solto no chão, balançando no itinerário que faz, pegando carona com meu olhar. Cena que mostra algo possivelmente fora do lugar, tempo aparentemente normal, uns entram uns saem...... mas que um parafuso faz falta pra alguma coisa, talvez algum motor, alguma poltrona, faz falta sim...
A rebeldia e a cara de pau deste parafuso lá....podia ter saído, podia ter sido jogado.....não, nada disso. Ficava lá no afrontando a tudo e a todos....é a segunda que te encontro...decifrando seu sinal....